soundtrack: Lorene Scafaria - We Can't Be Friends
Você, aquele seu olhar de pureza,
sempre me desnorteou. Você tinha nos olhos aquela coisa de pureza, uma coisa
muito louca, eu olhava pra você e pensava que parecia um anjo, e eu, que nunca
acreditei em Deus, flagelava minha descrença até ela quase se transformar em fé, e deve ter se transformado, por alguns segundos, algumas vezes, desconfio.
Não o suficiente para que eu desejasse o paraíso, nessas horas eu desejava
apenas que você jamais deixasse de olhar para mim daquele jeito, mesmo quando
você me beijava a boca, a nuca, e as suas mãos seguravam os meus seios com uma
delicadeza morna e úmida, uma delicadeza desistindo de ser lúcida, e a minha pele quase virava a sua – eu aceitava o fim
do mundo e o meu próprio sem receio ou barganha porque aqui, nesse lapso efêmero onde
somos carne e sangue e osso entremeados de absurdas repercussões sensoriais, eu
pertencia a você e você e você a mim, ninguém sendo dono de ninguém, nós apenas
nos descobrindo, redescobrindo. Cobrindo-nos de profundidades. Ainda durmo sem
travesseiro e com os pés para fora da cama – mas, desde que você se foi, minha
pele não se acostuma, e os cantos da casa me olham inquisitivos, atônitos, eu,
blasé, mentirosa, respondo: é a vida. Não é a vida, meu amor, não é. Não é a
vida, é a minha descrença despencando em queda livre na vontade reprimida de que exista
de fato um Deus, uma força, uma entidade que faça todo o transitório ser menos
hostil sem você. Porque a vida é transitória, relapsa e insinuadora de desvios.
E a minha descrença, permanente e vígil como qualquer promessa de eternidade,
se fere inteira em cada “e se”, e eu não consigo mais secar suas feridas. Ou,
talvez, não queira.
A verdade é que não acredito em
paraíso. Mas em nós, eu acreditava.
Uau, Flávia. É muito bom te ler.
ResponderExcluirobrigada, Ana <3
ResponderExcluirCaramba, Flávia!
ResponderExcluirAlém de (como sempre) você escrever lindamente, eu me identifiquei com essa emoção que o texto transmite. Arrepiei...
Ricardo, penso que não existe nada mais universal do que os sentimentos que brotam dentro de nós a partir do "e se". Quem bom que gostou :)
ResponderExcluirBeijão!
lindíssimo!
ResponderExcluirguebert
Como diz Cazuza: "e o tempo não pára'.
ResponderExcluirComo sempre Flá, impecável.
Um beijo.
Sempre adorei a forma com q vc se desnuda a minha frente, me perco, primeiro nas curvas de seu sorriso e em seguida nas outras que vão se evidenciando a cada movimento, todas lindas, tão íntimas e graciosas, mesmo as doloridas... permito-me ser envolvido por seus braços, tão poéticos... sinto seus dedos tateando alma e coração... e quando, enfim, te vejo deitar serena, é meu mundo que se dobra, se acalma e horizontaliza, é uma sede que encontra um copo, é um fim que encontra um meio, é um anjo... e não é ninguém, senão você.
ResponderExcluirCONVITE
ResponderExcluirPassei por aqui lendo, e, em visita ao seu blog.
Eu também tenho um, só que muito simples.
Estou lhe convidando a visitar-me, e, se possível seguirmos juntos por eles, e, com eles. Sempre gostei de escrever, expor as minhas idéias e compartilhar com as pessoas, independente da classe Social, do Credo Religioso, da Opção Sexual, ou, da Etnia.
Para mim, o que vai interessar é o nosso intercâmbio de idéias, e, de pensamentos.
Estou lá, no meu Espaço Simplório, esperando por você.
E, eu, já estou Seguindo o seu blog.
Força, Paz, Amizade e Alegria
Para você, um abraço do Brasil.
www.josemariacosta.com
Flávia,
ResponderExcluirQue lindo! Quanta poesia! Me fez sentir aqui.. tudo, numa intensidade sem igual.
Queria agradecer o carinho comigo. Muito obrigada mesmo!
E não, não pare de escrever mesmo. É linda a forma como você escreve, e toca o coração da gente.
Um beijo :)
Um beijo!
Flá, Isaque. Estou sem perfil no face e queria te mandar um ou outro e-mail pra falar da vida, alta do dólar, cotidianidades. Tentei achar no seu blog e não encontrei. Espero que volte aqui e ache esse comentário perdido. Caso encontre, meu email é isaque8viana@gmail.com.
ResponderExcluirIludir-se é fácil.
ResponderExcluirque esse turbilhão tenha passado. pq tudo passa, até a alegria...
ResponderExcluir