domingo, 4 de novembro de 2018

Vamos Conversar Sobre Filhos?

Se você tem filhos, provavelmente concordará com este texto. Se não tem e não pretende tê-los, também. Na verdade, quero falar com você, que ainda não tem filhos mas deseja muito ser mãe. Você tem ideia do que seja realmente a maternidade?

Antes de ser mãe, você deve lembrar que, a princípio e por um longo tempo, seu filho será um bebê - e bebês dão trabalho. Basicamente, bebês choram, mamam, fazem xixi e cocô e precisam dos cuidados da mãe 24 horas por dia, pois não têm horário para nada e a menor inobservância pode facilmente fragilizá-los ou adoecê-los. Enquanto tiver um bebê, muitas vezes você se sentirá exausta, confusa, sozinha (ainda que conte com uma rede de apoio), incompreendida. Você chorará de cansaço, de desespero, de solidão, de dor nos seios ingurgitados. Você cheirará a leite e fraldas e trocará almoço, banho, passeio ou qualquer outra coisa por algumas horas de descanso. Não se preocupe, tudo vai passar, e logo seu bebê terá se transformado em uma criança.

Antes de ser mãe, você deve lembrar que crianças também precisam de você em tempo integral. E que os filhos não são uma extensão da mãe e, muito menos, sua propriedade: são seres independentes, com personalidade própria e direito de se descobrir e encontrar seu lugar no mundo. Amar um filho não é projetar nele as próprias expectativas, mas acolhê-lo e respeitá-lo exatamente por quem ele é, com seus defeitos e peculiaridades. Você deve lembrar que crianças têm um potencial infinito de aprendizado, e que educar um filho não significa prover a melhor escola nem todos os cursos possíveis e imagináveis: educar uma criança exige que você seja seu maior e melhor exemplo, e isso só será possível caso você se esforce dia após dia para vencer seu pior lado a fim de se tornar um ser humano melhor. Criar um filho não é só colocar comida na mesa, roupas boas no armário, brinquedos caros na estante - é demonstrar interesse pela pessoinha que está ao seu lado, é não negar um abraço ou um sorriso, é preservar sua inocência, é lutar diariamente pelo seu direito à infância, é estar ciente de que os seus problemas de gente grande não devem ser transferidos para uma criança que não tem capacidade nem obrigação de lidar com eles. Antes de ser mãe, você deve lembrar que crianças não são robôs: elas fazem birra, testam sua paciência, levam você ao limite. O filho que você vai ter pode ser completamente diferente do filho que você sonhou. Contudo, você deve lembrar que nenhuma criança deve estar exposta à violência, seja ela física, psicológica ou verbal - pois há palavras, atitudes e omissões que abrem feridas tão profundas a ponto de uma vida inteira não ser suficiente para que cicatrizem. Mas não se preocupe: sua criança também irá crescer e, quando menos esperar, seu filho será um adolescente.

Antes de ser mãe, você deve lembrar que adolescentes também precisam de empatia. Você, muitas vezes, sentirá saudades do bebê fofinho e da criança espirituosa de antes, e chorará por não reconhecê-los no rebelde de hoje. Você deve lembrar que é indispensável muita disposição para orientá-los e que impor limites é necessário, e a melhor maneira de fazer isso é estabelecendo com os filhos uma relação de confiança e cumplicidade, porém nada disso é algo que se possa exigir automaticamente de quem quer que seja: confiança se conquista, cumplicidade se constrói ao longo do tempo. Você deve lembrar que é desde a primeira infância que se estabelecem esses vínculos. Ignorando a realidade, a adolescência do seu filho tem grandes chances de se tornar um martírio para vocês dois. Mas não se preocupe. Essa fase também irá passar, e seu adolescente logo dará lugar a um adulto. 

Antes de ser mãe, você deve lembrar que a gente cria os filhos para a vida. Não somos suas donas, apenas guardiãs temporárias. Amar um filho não é privá-lo de encontrar seu lugar no mundo, mas prepará-lo para alçar seus próprios voos, levando consigo a certeza de que sempre terá para onde voltar. Antes de ser mãe, você deve lembrar que um dia ficará novamente sozinha, pois esse é o ciclo da existência. Aconteceu com nossos pais, acontece conosco, acontecerá com nossos filhos. Todos precisam escrever sua história. E, fisicamente perto ou longe, você sempre estará ao seu lado, com o mesmo amor de quando se viram pela primeira vez.

Antes de ser mãe, você deve lembrar que esse texto não trata do lado ruim da maternidade, pois ser mãe não tem um lado bom e um lado mau. Maternidade é difícil, requer dedicação, abnegação, sacrifício, paciência, sabedoria e, claro, amor - um amor altruísta, diferente de qualquer outro sentimento, que nos dilacera ao mesmo tempo que nos edifica. Ser mãe é tão assustador quanto apaixonante. Se você leu esse texto até o fim e se encheu de coragem, vá em frente. Porém, se bateu uma pontinha de medo, talvez não seja a hora.

Filhos não são status, prêmios de consolação ou recompensa. São seres humanos. São presentes maravilhosos demais para virem ao mundo e existirem nele de qualquer jeito. Ser mãe não é fácil. Vai exigir o seu melhor e, mesmo assim, inevitavelmente, algumas coisas fugirão ao controle e darão errado. É uma luta diária. Eu, particularmente, não trocaria minha maternidade por nada. E se você, que deseja ter filhos, estiver realmente pronta para essa batalha, prepare o colo e o coração: não há nada nessa vida que mais valha a pena.




(Obs.: escrevi sob o ponto de vista de uma mãe porque não tenho total propriedade para incluir o ponto de vista dos papais, mas penso que, independente do laço parental, quando se tem amor e responsabilidade, as lutas e realizações são conjuntas.)