"(...) e nunca te falei nisto porque deve ser o mesmo
quando uma mulher fala de filhos para um rapaz em início
de namoro, mas eu pensei em ter uma filha com você, que
fosse muito parecida com você. Eu pensei, confesso e
talvez a imagine, a menina, para sempre."
R.
R.
Perdoe minha deselegância.
Essa, de nunca saber o que
responder quando você me diz eu te amo,
eu e esse medo meu de coisas bonitas. Eu e essa mania minha de achar que tudo o
que é bom dura pouco, como um furtivo e efêmero primeiro beijo. Costumo colocar
a culpa de deixar a felicidade escorregar por entre os meus dedos nesses calos
de desamor que ainda tenho nas mãos e que doem, ah, como doem quando algo os
aperta, mesmo que esse algo tenha, seja, a felicidade com sua maciez de seda – e eu, que pensei já ter me acostumado à dor,
ainda me assusto, e as minhas mãos se abrem abruptas com a involuntariedade da criança
amedrontada que confunde a sombra na parede com um monstro à espreita. Relaxe, você diz, me abrace. E ensaio, quero, mas não
encontro no meu baú de habilidades esquecidas o abraço que desaprendi – porque
é como se abrir os braços fosse a chave para destrancar meu coração e quero
mesmo fazer isso? Não sei.
Eu e esse medo meu de coisas
bonitas, como você é bonita.
Acredito. Seu vinho, minha cerveja, nosso tempo desconstruído, me perdoe a deselegância de fingir que sou forte demais para me apaixonar de novo. O que
estou dizendo, e nem sei se digo isso a você ou a mim, é: às vezes tudo parece
leve, tudo parece definido, mas me perdoe a deselegância de sumir de repente
dentro de mim mesma sem dar satisfações nem a mim e nem a você. E entre nós a
conversa flui tão bem e também o riso, e eu me sinto amada, e existe uma certa
responsabilidade em ser amada, entende? Porque a gente tem que ter cuidado com
o amor que alguém oferece. A gente tem que ter cuidado, a gente tem que ter. Perdoe
minha deselegância de não cuidar bem do seu amor.
Perdoe minha deselegância de não
saber o que quero da vida. Às vezes confundo mesmo vontades com pássaros em
alvoroço, voando em bando para o nada mais próximo mas que faça recordar em
algo o aconchego de um ombro morno. Tenho estado fora do lugar ultimamente. Não peço que você me entenda, só peço que você me perdoe a deselegância de ter
medo e de raciocinar demais quando o que eu deveria fazer era sentir, e mais nada. E não
pense que estou fugindo, apenas não estou aqui e digo, sei o caminho, só não tenho
certeza se já é hora de voltar.
5 comentários:
'Perdoe minha deselegância de não saber o que quero da vida.'
Resumiu meus dias, em apenas uma frase.
Belo texto. Beijos meus.
Às vezes penso que amor deveria ser algo sincronizado; outras, penso que é melhor assim.
Beijos :)
"um Homem, como uma dor,
é muito mais elegante"
Ah, esse texto é daqueles poucos que tenho vontade de guardar numa caixinha só pra mim, não deixar ninguém ler ou senti-lo... Dias vão e vem e minha angústia aqui no peito insiste em aumentar, pois em vão tentei descrever este momento que estou vivendo mas você conseguiu. Obrigada! :')
"só peço que você me perdoe a deselegância de ter medo e de raciocinar demais quando o que eu deveria fazer era sentir, e mais nada." Essa é a história da minha vida! Aliás, alguém realmente sabe o que quer da vida? Se tem quem sabe, sortudos esses, pq eu acho sempre uma confusão de sentimentos e interesses que vão e vem com um piscar de olhos. Bagunçado, confuso, mas nem por isso menos belo, como o tal amor! Lindo texto, como sempre. Bjos, mana.
Postar um comentário