quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O ÚLTIMO CAPÍTULO DE AVENIDA BRASIL





E eis que a novela Avenida Brasil finalmente entra na sua reta final. Assisti apenas a alguns capítulos esparsos porque, confesso, não tive coragem de acompanhar a trama integralmente, cena a cena, dia após dia – algumas passagens me pareceram tão chocantes que desligava a televisão antes que o capítulo do dia chegasse ao fim: embora a excelência do elenco, a cenografia, caprichada e o inegável peso do “padrão Globo de telenovelismo”, Avenida Brasil, na minha modesta opinião, foi uma novela estranha. Pesada demais, cruenta demais. Uma versão contemporânea e ipsi literis, quase uma apologia, da tão abominada apesar de incansavelmente praticada lei de Talião. Com suas traições, roubos, trapaças, mentiras, Avenida Brasil me desconfortou desde o início e, provavelmente, desconfortará até o último momento. E, se João Emanuel Carneiro eu fosse, tentaria um pouco de leveza ao menos no capítulo final do folhetim. Minha Avenida Brasil terminaria da seguinte forma:

Tufão finalmente aceita que sua carreira de jogador de futebol acabou e que não tem talento nenhum para empresário e resolve, então, abraçar profissionalmente a atividade que mais desempenhou durante a novela: palhaço de circo.

Jorginho desaparece. Alguns meses depois, Nina é presa pois descobre-se que ela o matou e serviu no jantar quando descobriu que ele tivera uma filha com uma ex-BBB.

Suelen cria um blog na internet onde conta sua vida como Maria-Chuteira. Diante da repercussão, lança um livro que depois vira filme.

Max é preso e passa alguns anos na cadeia até obter liberdade condicional por bom comportamento; ao sair abre uma oficina mecânica e se casa com uma manicure chamada Babalu. Torna-se alcóolatra após ser abandonado pela mulher, que parte em busca do sonho de ser paquita do programa Xou da Xuxa.

Cadinho é abandonado pelas três mulheres e, deprimido, muda-se para o Iêmen, onde se converte ao islamismo e casa-se com outras sete.

Carminha, após driblar o cerco dos mocinhos da trama e transferir todo o dinheiro acumulado durante a novela para um paraíso fiscal, foge de jatinho particular para o exterior e, alguns anos depois, se casa com Marco Aurélio, que estava vivendo fora do Brasil desde a novela Vale Tudo

E se alguém estiver se perguntando por que, no meu último capítulo, a Carminha se dá bem depois de aprontar de tudo e mais um pouco: comparadas as vilanias de todos os personagens, ela não foi a mais podre entre as maçãs. Além disso, admitir é preciso: amo a Adriana Esteves.


E você? Como seria o seu último capítulo de Avenida Brasil



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

(e)terno

"olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo"



Ana C.

Ouve o que eu digo, meu amor: o mundo não se acaba hoje, não. 

Essa pressa toda, essa urgência. Ouve o que eu digo: não é preciso. Desde que abrimos a porta, e entrou o primeiro vento, e a vida como a conhecíamos se desorganizou para se acomodar no ruído quase imperceptível dos nossos pés, deslizando mornos sobre este caminho novo, feito das nossas sinestesias, e das nossas esperanças úmidas e vontades bruscas, e dos nossos absurdos, desde então tudo mudou. E o tempo, não se engane, está parado – e, por entre seus dedos imóveis, atravessam infinitas possibilidades, escolher nunca foi mesmo calmaria, uma coisa de cada vez e todas a seu tempo e até viver intensamente pede, cobra, por que pensar que não?, um pouco de parcimônia. Parcimônia, cada gosto de vida derretendo suavemente sobre a língua enquanto os olhos, fechados, procuram intimamente guardar a salvo de nós mesmos as imagens ainda sem nome daquilo que nos faz existir um pouco mais. E eu, meu amor, esqueci-me de tudo para existir. Então se perpetue em mim, que não tenho memória, no enlace lento e silencioso de quem se partilha não só por amar, mas também por saber que o tempo para em reverência a quem se entrega. E por saber que dentro de mim, que não tenho memória, só cabe o que me faz sentir eterna e que é por isso que cabemos, você e eu, em cada cor possível e ainda por nascer. 

O mundo não se acaba hoje, não, meu amor. Nem amanhã. O mundo só se acaba quando a gente quer.