"A coisa nenhuma deveria ser dado um nome,
pois há perigo de que esse nome a transforme."
Virgínia Woolf
pois há perigo de que esse nome a transforme."
Virgínia Woolf
Eu não saberia responder essa pergunta, entenda; talvez por isso me seja indiferente admiti-la no espaço insinuado entre os balbucios das palavras que não digo e os batimentos do meu coração – e tampouco me desconcerta vê-la me entreolhar nesses soslaios densos, nesses instantes que escapam à intuição na insistência de serem racionais. Porque igualmente me falta a capacidade de nomear aquilo cujo sentido está justamente na definição não havida, embora tão compreensível... e porque gosto, porque simplesmente gosto de renegar a força da palavra, e gosto de me ater à força dos sentires.
Por isso não afirmo que seja isto nem aquilo. E deixo que tal pergunta impertinente se cale quando minha alma se aprofunda numa paz recôndita e quente, uma paz rósea como róseo é cada cálice de pele e boca e olhos onde se bebe e se come dessa coisa doce e sagrada cujo sentido verbo algum alcança, onde se embebem os sonhos e se escondem os medos porque é depositária de todas as confianças e também de todas as desconfianças, é nas veias da minha alma assim enternecida que corre essa felicidade sanguínea e organicamente incorporada... E deixo que a resposta se dilua na confluência das imperfeições que fazem dessa coisa sagrada e doce tão extraordinariamente perfeita, e que se esvaia obediente, quase súplice, para a parte de mim que é imune ao visgo das conjecturas – onde eu não posso negá-la nem desentendê-la – e que aí se desfaça e me desfaça, e me restabeleça consigo, com sua significância tamanha e despalavrada. Eu deixo e é assim que a compreendo, e só.
Então o que é, eu não sei. Sei apenas que é, prescindindo de maiores razões para sê-lo. E aceito que apenas seja e que se revele a mim inexplicada e sem alegorias, e flua... e nessa ciência viro muitos sentidos, um coração acelerado e nenhuma boca – deixo a voz nua de qualquer palavra que possa profanar essa existência pura e deliciosamente invasiva, essa liberdade, esse cárcere, esse emaranhado inominável e misterioso de sentires vulgarmente chamado amor.