domingo, 13 de setembro de 2009

Aquele Dia em Setembro

"Quero te explicar isso, te passar este quarto imóvel com
tudo dentro e nenhuma cidade fora com redes de parentela.
Aqui tenho maquininhas de me distrair, tv de cabeceira,
fitas magnéticas, cartões postais, cadernos de tamanhos variados,
alicate de unhas, dois pirex e outras mais. Não tem nada lá fora
e minha cabeça fala sozinha, assim, com movimento pendular
de aparecer e desaparecer. Guarde bem este quarto parado,
com maquininhas, cabeça e pêndulo no coração.Fiz uma penteadeira
com Bogart e Bacall, très chic. Pronto, acabei esse assunto
de quartinho cultural, mas guarde bem – para mais tarde.
Fica contando ponto."


Ana Cristina César - Luvas de Pelica

Soundtrack: Aqualung - Strange and Beautiful





Não é que eu precise desesperadamente da sua presença, não é isso. Mas é que eu abri a porta do quarto e junto com ela se abriu uma coisa estranha dentro de mim, meio como uma idéia manca, manca e amputada, e eu senti a sua falta ali, naquele vazio recém descoberto. Porque a vida anda, ah, a vida anda; mas às vezes tropeça nas próprias pernas e se aprisiona trôpega nos retornos, ou às vezes se assusta e estanca para respirar ou, às vezes, simplesmente se cansa e se pergunta afinal, o que é que eu estou fazendo. A vida é mesmo assim, esquisita.

A vida é mesmo assim, eu não precisando da sua presença e a sua presença aqui, passeante. Insistente. E, daquilo que apaguei sem querer da minha lista imaginária de pequenas omissões, o que mais me sufocou foi ter dito foi “vai” quando você plantou seus olhos turvos de dúvidas sobre os meus lábios trêmulos, você sabia, você sabe, os meus lábios sempre tremem quando desacreditam do que eu digo. Então era “vai”, mas era “fica”. Ficou essa coisa que ainda não reconheço e que se parece tanto com solidão embora não seja pois, sim, é algo que pesa e respira e projeta sua sombra nas paredes e, seja lá o que for, me faz companhia, você ria, lembra? Você ria da minha imprudência em dizer que gostava de ficar só. Imprudente. Quem sabe seja sina minha esse imaginário ranger de dentes mastigando o real significado do que minha voz pronuncia, minha voz sempre teve gosto de inversões.

Tenho uma nova idéia a respeito de lucidez.


36 comentários:

Dulce Miller disse...

Putz... a vida é esquisita sim e a gente vive dizendo inversões...
Adorei me encontrar aqui.

Beijão!

Toninho Moura disse...

Muito legal te encontrar no twitter e agora conhecer seu blog.
Já linkei no "Dicas...".
Passe lá para nos conhecer!
Beijos!
Toninho Moura
Capitão Ócio

Natasha Dias disse...

Lindas suas postagens...sempre né!!!
A vida tem dessas... o bom é que vamos sempre descobrindo novas versões para nossas idéias do que vem a ser as coisas...
Uma ótima semana a vc!!!

Anônimo disse...

Tenho que confessar que nada me assusta mais que a solidão! Nada pode ser mais dolorido, embora muitas vezes seja dessa solidão que mais precisamos... mas acho que no fundo o "fica" sempre estará em nossos lábios! Beijos Flavinha!

Gustavo Martins disse...

Don't let the sun go down on me
Although I search myself, it's always someone else I see
I'd just allow a fragment of your life to wander free
But losing everything is like the sun going down on me

Anônimo disse...

Brincadeira para você, no meu blog, passa lá.

bjos ;*

Fee disse...

Não posso nem pensar em querer a presença de alguém que foi. E não adianta, deixar de assumir, fingir que não, não muda o fato de que eu fico beirando perder a dignidade. Engraçado: você com um novo conceito de lucidez, eu já até esqueci o que é. E não é triste, só é um tanto perigoso. Adorei o teu texto, aliás, ainda não li um aqui que não gostasse.
Beijos

Maite Lemos disse...

Oi Flávia,

Adorei os teus textos.
Adorei o blog.
Já estou seguindo.
Vai lá me conhecer:

http://www.pensoemtudo.blogspot.com/

bjnho

Anna Bueno disse...

Era "vai", mas era "fica" . Com certeza uma grande contradição entre o sentir e o agir.
Beijos!!!

Mauri Boffil disse...

que musica deliciosa!

gloria disse...

que lindo blog! tenso, denso, de uma linguagem que povoa os interstícios. Esses ditos por entre os dentes, esses "vai" com susurros silenciosas de "fica" falam dos nossos medos de transbordar. dessas caldeiras que nsos atiçam e nos levam a fechar comportas. que belo! voltarei por aqui!

D.J. Dicks disse...

Eu sei como é viver sem tu aqui perto de mim.... Óh, mulher to indo te visitar lá por outubro... Abraços.

Anônimo disse...

É aquilo, né? Cada qual escrevendo seus momentos.
Gosto do jeito como vc escreve.
Bjs.

Mariana. disse...

"Não te dizer o que eu penso, já é pensar em dizer..."

Porque a gente esconde o querer por trás de palavras erradas? Porque esse temer em se entregar, em se arriscar? Ah e quem vai entender da vida?!...

Lindo texto moça ;* Linkei

bete disse...

sei bem como é esse vai...com som de fica.
bj little sis

Marina disse...

Bonito demais!!

Acho que tudo mundo se reconhece nessas situações, sempre tão lindamente expostas por você!
E nós mulheres temos mesmo uma quedinha por inversões, não? Bendita imprudência... Cada vez me convenço mais: "minha voz sempre teve gosto de inversões", cabe agora achar um par de ouvidos invertidos para as coisas se encaixarem! =)

Beijos!

O Antagonista disse...

Cheguei aqui por um acaso, gostei demais do visual do blog, mas nada que se compare aos textos... você escreve muito bem, dá gosto de ler! Parabéns!

paulo disse...

Para que lucidez se sentimos e dizemos coisas que por vezes não queremos.
O subconsciente é perverso...

Jaqueline Lima disse...

quanto mais eu vivo mais esquisita me sinto e mais naturais as coisas parecem...

beijos bonita!

Érica Ferro disse...

Ah, Flávia, já tinha passado diversas vezes por aqui, não lembro de ter comentado antes.
Em todo o caso, quero que saiba da admiração que sinto por ti. Você escreve lindamente, me identifico bastante.

"Porque a vida anda, ah, a vida anda; mas às vezes tropeça nas próprias pernas e se aprisiona trôpega nos retornos, ou às vezes se assusta e estanca para respirar ou, às vezes, simplesmente se cansa e se pergunta afinal, o que é que estou fazendo."

Compartilho da mesma opinião.
Andamos, tropeçamos, nos ferimos, quase morremos, mas levantamos e continuamos a caminhada.

Beijo grande.
Tô te seguindo!

Taynar disse...

Acho que entrar aqui é dolorido.
É dolorido ver as minhas dores em palavras.
É tão estranho.

Independemente de qualquer outra coisa, essas dores são sempre parecidas.

E hoje eu tô cansada de dizer 'vai', quando na verdade meus olhos berram 'fica'.
Eu tô cansada de deixar as pessoas partirem.

Beijos

Anônimo disse...

A vida é esquisita mesmo, uma caixa de surpresas, um mistério, caminha por aí, nos levando, ora somos nós que a levamos, enfim, imprevisível descoberta.

Anna Vitória disse...

Incrível.

Daisy Serena disse...

essa doçura que só você sabe passar!

Marguerita disse...

Fazia um tempinho que nao passava por aqui!

Sempre me faz bem, Dona Flávia.

Muito mesmo.

Bj, guria.

Te cuida.

Rafhitch disse...

Flá meu anjo, lindíssimo este texto seu.

Muito bom mesmo e bastante reflexivo.

Beijossss e fica na paz!!

Tenha uma boa semana.

Beijoosss!!

WOLF disse...

Flávia, as pessoas hoje se cercam de ilusões e buscam uma tal de qualidade irritante de vida. Pensam que podem viver sem se machucar. Concordando com o teu perfil, eu também prefiro mais a trabalheira que dá todo esse sufoco, essa coisa confusa que é não saber onde vai dar um caminho, mas não ter outra opção, e não oferecer muita resistência. O texto está demais, parabéns!

Bill Falcão disse...

São essas inversões que transformam seus posts, seus sonhos, em novas ideias quanto à lucidez, Fravinha! E eu gosto disso!
Bjoooooo!!!!!!!

Kari disse...

E porque temos a infeliz mania de dizer esse "vai", quando tanto queremos pedir um "fica"????
Ah como somos confusos!!!!!

Beijos

Anônimo disse...

Flávia, que saudade do seu blog, das suas palavras. Desculpa pela ausência, ando tão relapsa com o blog. Mas prometo entrar nos eixos e voltar a ler seus textos que tanto adoro.

Abraço e ótimo fim de semana pra vc.

^^

Sempre querendo saber disse...

Noooooooosa que lindo,que saudade q eu tava daqui!
Como sempre PERFEITO!

Alana disse...

Sabe o que eu acho mais incrivel? não importa o tempo que eu passe sem vir aqui, toda vez que eu venho fico encantada com teus textos. Todo mundo te diz isso não é!? rsrsrs
continue escrevendo, adoro todo esse sentimento que da pra ver nas tuas palavras .-.
beeeijos, Flávia.

Anônimo disse...

Eu ainda não tenho esse conceito formado. Vc bem sabe, o amor foi um precipício pra mim: quando eu achei que voava, caía.

Lindo texto, amiga. Como sempre.

Meu beijo de sempre tbm. E saudade de vc.

Natália Mylonas disse...

Saudades dos seus textos. E quando venho, tem isso ? Ai Jesus... meu coraçãozinho não 'guenta não.

Eh pra dizer que tá sensacional ?

Beijos

Anônimo disse...

um bjo linda!
bom estar por aqui... ^^

Larissa disse...

Quantas vezes eu já disse um "vai" querendo dizer "fica", quantas vezes já senti essa solidão ao chegar em um lugar...

Lindo.. Sempre lendo por aqui.

=**