domingo, 25 de maio de 2008

In Media Res

Eu sou este instante que me preenche os olhos.
E este mundo que me preenche o peito.

Soundtrack: Smashing Pumpkins - Landslide



A cada dia me convenço mais e mais de que eu não sei sentir. Talvez porque as emoções se apossem do meu espírito de maneira tão exacerbada que se acotovelam em completa desordem dentro de mim, em um crescente disrítmico e irrefreável. É esse o meu estado natural, portadora resignada de uma bola no peito, imensa e quase asfixiante – meu coração, talvez, cansado de tentar conter o incontinente. Carrasco da minha paciência pergaminhada desabando exausta num leito quieto de intenções cheirando à iminência de rompantes, vitimada por uma angústia que não é angústia e nem deve ter nome de tão particularmente sentida.

Fome, talvez, de vontades. A vontade coibida é uma rosa murcha – o azedume do cheiro, a aparência macerada de coisa cuja hora passou, o rubro virado em tom-qualquer-um, a aversão completa, quase com um quê de piedade, provocada por essa visão de quase-morte, ou quase-vida. E a bola no peito crescendo, crescendo, crescendo, crescendo. Crescendo. E eu fico quieta, muito quieta, naquela imobilidade agressivamente vigil de quem espreita a urgência de um grito, e, de repente, zás! – aquela explosão de sempre, tão destrutiva quanto regeneradora, caos restabelecendo a ordem e o peito serenando, serenando, serenando, serenando... serenando... porque sou aquela intenção de sempre, aquela tensão de sempre, aquela vazão de sempre. Aquela, de sempre.

Não sei sentir, talvez nunca saiba. E minha resignação diante dessa falta é a prova cabal de que tal aprendizado se opõe diametralmente à minha natureza de criatura exacerbada, se debatendo contínua e violentamente dentro de um corpo frágil e limitado até a completa exaustão – derramada inteira nos próprios olhos, estremecida, ávida de sentires caudalosos e irreprimidos. Não sei sentir – e me entrego sem resistências a esse não saber. Desisto de tentar ser quem não sou, de ignorar que carrego no peito o que me pertence. Ninguém consegue medir forças consigo mesmo por tanto tempo.


*In Media Res: expressão latina que significa literalmente "no meio dos acontecimentos".

E tem post novo lá no Espasmos de Riso. A história de como uma menina indefesa - eu - foi transformada em um cogumelo cabeludo por uma bruxa malvada. Duvidam? Pois passem lá e conheçam detalhes do "causo"...

28 comentários:

iaiá disse...

flávia,

vc foi, e provavelmente será a única a comentar meu post sobre o nobre senador. feliz vc que teve o prazer de conhecer um homem da vida pública tão nobre!
chorei muito com aquele discurso que tá no post no dia em que ele o fez, pois concordo com cada palavra, e choro sempre que o escuto de novo.
bjs

Auíri Au disse...

Somos dois...

Belo espaço..

beijos

Anônimo disse...

Tentar viver uma outra vida, sonhar outros sonhos, sentir outra natureza e lutar contra si mesmo é sempre motivo de uma dor inefável e asfixiante. É comum às pessoas agir assim, numa desesperada esperança de ser um pouco melhor do que de fato é. Inútil! Os valores estão presentes em cada um, e para que estes valores possam ser reconhecidos, é preciso antes de tudo que nós mesmos saibamos reconhecê-los.

Você sabe sentir sim, e sabe ao seu jeito. Talvez não seja da forma clássica de se sentir, gritando, chorando, esbravejando e implorando, mas de uma forma mais contida, racional e equilibrada. Cada um de nós possui um coração, e cada coração bate num ritmo diferente! Assim é a vida!

Beijos Flavinha!

Nathália E. disse...

Eu sinto milhões de coisas.
E quase sempre, tudo ao mesmo tempo. Não sei sentí-las nem interpretá-las. Dentro de mim é uma confusão só!

Beijo!

Ps.: Dependendo do navegador que a pessoa estiver usando, o seu slide só irá aparecer se tiver o flash, ou algum outro programa dependendo do navegador, instalado no computador da pessoa.

Anne disse...

Acho que então eu também não sei sentir, mana...alguns sentimentos crescem de mansinho, só pra que eu não me oponha a eles, e quando olho denovo eles já estão enormes, tomando conta de quase tudo, coração, alma, corpo, sanidade... ainda não sei se isso é bom ou ruim, mas sinceramente, aposto que é melhor viver assim, sentindo, vivendo plenamente cada coisa a seu tempo, do que o vácuo ou a solidão...

E vc? Ahhh, vc é um coração em forma de gente, minha mana...doce, meiga e dona de uma sensibilidade linda, que me faz te admirar a cada dia mais. Amo-te infinito!

Beijos

Gustavo Martins disse...

Prima,

passar não dá pra fazer passar. mas dá pra aliviar. e tem muitas espécies diferentes de remédios aí.

sabe do que estamos falando, né? sabe que tem uma cidade, um destino...

Tudo ou nada ... disse...

Sentir, sentir, sentir ... tanto temos a sentir que as vezes nos esquecemos de ser sentimentos.
Bjos

Anônimo disse...

Se fosse por isso, eu poderia me considerar um homem de pedra, feito de matéria dura e difícil de atingir.
Mas só por saber que tenho lá dentro, em essência, um adolescente empolgado, apaixonado, que conhece bem aquilo que o toca, já me sinto um ser humano melhor, mais sensível.
Só não sou de externar em rompantes, e na verdade poucos o são. Não sou efusivo nem deprimido, mas tenho consciência de que nem por isso deixo de ser um cara tratável, expressivo.

Abração!!!

Thiago Gagante disse...

Todos nós sabemos sentir. Claro (e ainda bem) de formas diferentes!!!

Relaxa, vc é normal! Essa bola q vc sente no peito, ahhhh, eu sempre sinto! Não tão intensamente, mas tb sinto!

Pelo contrário, acho q vc sente!!! Até demais!
bjo

Anônimo disse...

Olá,
Adorei seu blog, muito interessante e com ótimos textos...
Se tiver um tempo, espero sua visita no meu Louco Por Pés...!!

Bye,

Ricardo Jansen
www.loucoporpes.blogger.com.br

Mila Cardozo disse...

Maninha... se vc não sabe sentir... que sabera??? Talvez vc sinta numa intensidade maior que a maioria... e talvez vc se envolva tb acima da média... Mas não saber sentir??? Isso é para os que foram morar em suas casinhas atras das costas, buscando se alienar do mundo!!!!
Te amo de montão viu???
beijos Mila

Ciça. disse...

Não sei sentir, não sei interpretar o que sinto, mas continuo a sentir...
.
Quanto ao haloscan, ouvi dizer que sempre perdemos os comentários. :/


:*

Van disse...

E não somos todos assim, twin?
E não somos todos um tanto exacerbados e contidos,
quietude e explosão,
força e fragilidade....?

Somos todos duais. Yin e Yang.
Complementares em nós mesmos.

Sentir é estar distraído!
Não é racionalizar ou saber.
Sentir é deixar-se.

Beijucas amor.

Anônimo disse...

Flavinha, não sei se vc é adepta de selos e indicações, mas tem uma pra você lá no meu blog... pega lá!

Beijos linda!

Anônimo disse...

Acho que você se engana! E que o próprio post mostra isso!
Bjooooooooooooo!!!

Ricardo Rayol disse...

eu sei sentir isso é meu martírio.

Anônimo disse...

Flávia, caraca lindo isso!
Sou uma pessoa que sente, que se entrega fácil e mergulha de cabeça.
Algumas vezes sofro, mas faz parte.
Canceriana é fogo. rs
Beijão

Carmim disse...

Ah Flavinha, que os outros me desculpem, mas és uma das escritoras que mais prazer me dá ler. Há sempre algo de profundo e belo nas tuas palavras, sem falar que me revi totalmente neste teu texto... sublime!

E "In Media Res" fez-me regressar às aulas de Latim, quase que conseguia ouvir o professor. =)

Beijo.

Anônimo disse...

:)
eu tenho nome para essa bola, vc entende, mas ainda vou encontrar letras para combiná-lo.

E vc é linda por isso, pq sabe sentir, sim, fora de todas as diretrizes já impostas, de um jeito único e universal. Ser quem vc é é a melhor escolha que se pode fazer, e vc a faz num infinito de beleza.


Meu beijo e emu amor, também infinitos.

Camila disse...

sabe... eu aprendi sabendo, hoje, de tão castrada, também não sei sentir...


beijos daqui...

Antonio Ximenes disse...

Flavinha.

O legal é ter um universo caótico de sentimentos dentro de si.

Aquela confusão democrática de "frios na barriga"... "engasgos no peito"... "beicinhos de choro"... "sorrisos sapecas"... "gargalhadas sonoras".

Um tumulto de alegrias... amores... mágoas... desejos... renúncias... prazeres.

Muito melhor ser repleto... do que vazio.

Antes sobrar do que faltar.

Abração forte pra tu.

Antonio Ximenes disse...

Dá uma olhadinha lá no Ver-O-Poema... (Agora eu tô lá também)... rs.

Abração de novo.

Renata Silva disse...

Quer saber? Eu não sei sentir, só sei que sinto!

Bjs

Beth Blue disse...

bem, depois de ler isso me dei conta de que sou muito parecida com você: eu também não sei sentir!!! ;-)

geralmente sinto demais e no momento errado - se bem que tudo na vida acontece na hora em que tem de acontecer...

Sunflower disse...

sou minha pior concorrente e melhor sabotadora.

AMO Pumpkins

Anônimo disse...

" aquela de sempre" ....eu tb tenho sido por tanto tempo....aquela de sempre!


Bjos!!!

Atriz disse...

Eu tb estou no mesmo barco...Não sei,,,,não mesmo!!!!

bjs!!!!

C. disse...

flávia, que és tu|
como uma escrita pode ser tão intensa quanto suave assim|

faz suspirar ao mesmo tempo que deixa a lágrima na beirada do olho... vixe!

=*
linda.