quarta-feira, 1 de outubro de 2008

... e ontem, quase amanhã,

"É quase indecente essa tarefa de elisão,
ainda mais para mim, para mim!
É um abandono quase grave, e barato.
Você precisava de uma injeção de neo-realismo, na veia."

Ana Cristina Cesar - Luvas de Pelica



eu talvez soubesse o que fazer com esse hoje que não encontra seu lugar e que sem paradeiro ocupa meus hiatos de voz e minhas gavetas. Que fecha as cortinas para assegurar que o dia não comece e nem termine, é sempre essa meia-luz – e que depois se deita ao meu lado e se esconde sob o meu lençol, e se esfrega nas minhas pernas e me afaga as costas, é sempre essa meia-luz. Simples. Nem ontem, nem amanhã, somente esse hoje indiferente e deslocado orbitando entre meus dedos em generoso equilíbrio. É esse hoje obsoleto quem me traz o café na cama, mudo. E esse silêncio, onde está que não o escuto? E esta música que não cessa, e este tempo que não passa. E o que estou dizendo, mesmo? Nada. Apenas esta deleitada e acintosa abstração, onde me precipito e afundo os pés para escapar do próximo gesto - que nunca sei se serei temperança ou calamidade. Sou algo inesperado e estranho a mim, sou meu próprio rumor. Mas estou aqui, implícita. O meu lençol é barato, a minha alma não é.

49 comentários:

iaiá disse...

nas ausências aparentes é que a gente acaba por se encontrar consigo mesmo de verdade.
lv u. little sister
bj

Janaína S. disse...

mais uma 'cúmplice' então.
voltarei mais vezes!

parabéns pelas palavras :)

Unknown disse...

olha lá, um pouco mais adiante, como as árvores balançam. é a inquietação. brisa que precede os fortes ventos da mudança.

mil coisas.

Menina da Imprensa disse...

É esse hoje, que sabe guardar segredo direitinho. Não conta de jeito nenhum o que há de ser do amanhã. Danado!
Mas...implícita? Pode até ser, mas só até breve... entendeu né rsrsrs
Kisses

Flávia disse...

IARA,

E esse encontro, quanto mais a gente adia, mais necessário se torna. Beijos!

JANAÍNA,

Volte sim, querida, cúmplices são sempre bem vindos! Obrigada pela visita e pelo comentário, esteja à vontade por aqui. Beijo!

JÚLIO,

SEMPRE CERTEIRO. Sempre. Inquietação é a palavra que me cabe nas mãos, hoje. Beijos!

VANESSA,

Entendi, rs! Mas bem que ele podia ser camarada e contar esse segredo pra gente, né? Beijo!

Germano Viana Xavier disse...

Flávia,

confesso que foi o "mais grande" texto teu que li aqui.

E fico em silêncio.

Um carinho.

Sunflower disse...

De quanto é a indulgência pela sua alma?

Beijas

OAlbergueiro disse...

inesperado são os escritos que encontro aqui...sempre inesperados...

Marguerita disse...

Perdendo também se ganha!

;)

Prazer, Rita.

Adicionando teu blog pelas minhas bandas...

http://extremepowerofperucation.blogspot.com/

Rica Retamal disse...

Talvez seja hora de abrir as janelas e trocar o ar, deixar o sol entrar.
Nada de dias moribundos! ;)

Beijo, moça.

Rodrigo Carreiro disse...

Sua inquietude também não é barata...

~> Renan disse...

"O meu lençol é barato, minha alma não é."

Quanto mais venho aqui mas vontade sinto de continuar!

Beijos

Anônimo disse...

Oi Flavia
Agradeço a visita e comentario. Gostei do seu canto.
Voltarei sempre...
Beijos

Renato Alt disse...

E como não se tornar cúmplice, depois de ler tanta intensidade e inquietação... e, mais do que isso, identificar-se com ambas?

Realmente, um achado este teu espaço.
Meus parabéns.

Beijos.

Kari disse...

Que lindo Flavinha!!!!
Um misto de pensamentos e desejos... Bom demais de ler e sentir...

Beijão pra tu

Cláudia I, Vetter disse...

''(..) o silêncio está cheio de espírito e sabedoria em potência, assim como o mármore não trabalhado está cheio de grandes esculturas. Os silenciosos nunca depõem contra si mesmos. (...)"
(Contraponto - Aldous Huxley)

O estado da verdade não é silêncio, mas o eco dentro de nós que insiste em soar real - os traços do espaço que nos movem;
as percepções que conduzem.

E você tem seu caminho entre as mãos, muito mais que guiada, O caminho.

;********

Camilinha disse...

eu tenho esta angústia do hoje que nunca, nunca vira amanhã...
coisa de coração apertado, sabe?!


beijos daqui...

Cara de 30 disse...

Tentar desconstruir os posts enigmáticos pode ser legal mas não tenho condições de fazer isso, neste caso.

Prefiro imaginar como os seus demais leitores, que a inquietude domina seus pensamentos e sua alma neste hoje. E tomara que este hoje não seja um presente muito extenso... Tomara sim, que o amanhã chegue logo e traga tranqüilidade.

Acho que é isso.

D.J. Dicks disse...

Reparando em tua literatuta percebo o silencio sempre presente... Nenhuma alma é barata.... Nos custa muito caro ter que carrega-las por ai.
Bem,o Páris não se imprecionou com a declaração de amor da Nikki... mas homens gostam de sodomia... fazer o que... deve ser nosso lado greco-romano... e irlandes, sin irlandeses adoram sodomia.....

que besteira acho que saber sobre isso nao te interessava...

sobre olivro , leia... quando acabar marcamosum sabado a tarde para tu me o devolver...

Anônimo disse...

Faço minhas cada vírgula de suas palavras! Bjus.

http://so-pensando.blogspot.com

Anônimo disse...

Que perfeito esse texto. Que perfeito.
Vc consegue me deixar emocionada. Feliz.
beijos.

Flávia disse...

XAVIER,

eu entendo. Beijo, querido.

SUN,

Muito, muito cara; duvido que alguém possa pagar. Beijas :)

GABRIEL,

Depois vc volta pra me dizer se isso é bom ou ruim? Beijos!

RITACAROLINA,

Prazer, Flávia :)
Obrigada pela visita, moça. Linkada por aqui também. Beijo!

RICARDO,

Sabe que agora eu até senti uma lufada boa de ar renovado? ;)
Nada de dias moribundos. Beijos!

RODRIGO,

Nem poderia, moço - tem me custado caro. Agora as coisas por aqui funcionam na base do superávit :)
Beijos!

RENAN,

então volte, é mais que bem vindo! Beijo!

SILVIA,

eu é que agradeço a sua delicadeza, moça. Será sempre bem vinda por aqui. Beijos!

RENATO ALT,

Cúmplices, então :)
Muito obrigada pela visita e pelo comentário, moço. Vc volta, né? Beijos!

KARI,

Fofa :)
Beijos!

CLAUDINHA,

Meu caminho anda um tanto escorregadio, às vezes teima em escapar. Agora tenho mãos mais firmes para contê-lo... beijos!

CAMILINHA,

Sei sim, Camilinha. ando com o meu assim também. Beijos daqui :)

CARA DE 30,

Tomara :)
Beijos, moço.

DIEGO,

Sim, eu ando uma mocinha silente. Mais do que o usual :)
E o cara bem que podia ter se impressionado, né? Dependendo da mulher, isso é mais do que amor, é sacrifício, rs...
E já terminei a leitura. Nos vemos em breve, então. Beijos!

DANIEL,

Usurpador, rs. Beijos :)

Flávia disse...

CELINE,

Ô, moça... que bom que te deixei feliz. Fico feliz também. Mesmo. Beijos :)

Daniel Salles disse...

Grande texto: como sempre, intenso - não sei se já te disse, mas adoro as tuas metáforas!

Mas enfim, o hoje a gente constrói num improviso constante e indolente...

Taynar disse...

Affff...
Esse hiato tá pegando todo mundo. Mas lógico que o expressastes de maneira sublime.

Ontem minha internet morreu pra vida e nem me deu tempo de despedir.

Hoje a minha sobremesa foi creme de menta com kiwi e chocolate =DDDD

Beijos, moça

Daniel Salles disse...

Só pra registrar: vim aqui comentar teu texto, e quando volto no meu o que encontro? Um comentário teu...rs!
Estamos em sintonia!
Beijos

Taynar disse...

'estava escrevendo um texto muito filosófico.'

hahahahahhahahaha
ADOREI essa.
Na boa, minha sobremesa tava uma DELÍCIA!!!!!!!!!!!

E nossa Abelhuda, hein??
beijos

*Raíssa disse...

"O meu lençol é barato, a minha alma não é."

Melhor frase do texto, muito bom por sinal!

Beijos

Taynar disse...

Sim sim, ótima idéia!
Que shopping e que hrs?

Taynar disse...

Olha, o único dia que tá complicado pra mim é amanhã, no resto, to livre.
Mas pode ser no sábado e no Castanheira.
Só temos que marcar horário, essas coisas.
Beijos

Edna Federico disse...

Sua alma não é barata mesmo!!!
Ela é sensível, atenta e certamente te levará a caminhos mais suaves e concretos.
Beijo

Mai disse...

"Solidão...o silêncio das estrelas, a ilusão. Eu pensei que tinha o mundo em minhas mãos... como um Deus e amanheço Mortal.
E assim, repetindo os mesmos erros
dói em mim ver que toda essa procura não tem fim...
E o que é que eu procuro afinal?
Um sinal... uma porta pro infinito, o irreal.
O que não pode ser dito, afinal..."
(Lenine)
É Flavinha, sem gavetas ou hiatos à meia-luz.
Sem mãos em meio à pernas, sob lençóis...
Silêncio, solidão ou intensidade...
Este é mais um texto dos melhores.
Este foi um belo HOJE.
Carinho!

Mariana disse...

o meu lençol é barato e a minha alma nao....

disse tudo....

beijos!

Anônimo disse...

Flá...
a Literatura tem justamente o papel de atingir o que vc acaba de conseguir com esse texto. Tô ainda mais pasma! E com uma epígrafe dessas, eu sou suspeita... =D

Quanto ao conteúdo, não consigo dizer. Me reservo o velho e bom direito de entender, refletir e sentir.

Beijo e amor desta aqui, aí.

Anônimo disse...

Flavinha,
Essa ultima frase, cara, tô besta aqui, sei nem o que comentar, mas isso tudo aí é muito muiiito bom mesmo! Você/tuas palavras tem cheiro de intensidade.

Beijos

Naomi Conte disse...

menina, gostei!a última resume essa vida nossa do dia a dia...

Tania Capel disse...

ah... depois desse final eu vou dizer o quê?? rs... e se não fosse esses sentimentos que nos inundam, nosso hoje seria insoso!

um beijo no coração!

Flávia disse...

DANIEL,

Não havia me dito não, mas adorei que tenha dito agora, rs. E sim, é assim mesmo que se constrói o hoje - ainda que às vezes a gente meta os pés pelas mãos e acabe estragando uma amanhã legal. Mas enfim, é a vida. Beijos!

TAYNAR,

Conversadas. :)
Beijos!

RAÍSSA, EDNA, MARIANA, PATI, NAOMI, ZANDALI,

Esse foco especial na última frase do texto foi uma coisa que me chamou a atenção. Porque ela não existia na construção original. Foi escrita depois que o post foi ao ar, coisa de algumas horas mais tarde - após uma releitura, ela brotou na minha cabeça quase como uma reflexão. Interessante tanta gente ter se identificado com ela. Beijos!

MAI,

Belo e difícil, querida. Isso de se buscar é doloroso - a gente acaba mesmo fazendo umas besteiras. E se arrependendo. E nem sempre consegue consertar... beijo!

PATI,

É que você sabe, amiga. Também ando não conseguindo dizer certas coisas, e não querendo dizer outras - ultimamente o que tenho dito e feito tem sido justamente a tal calamidade que tanto me assusta. Amo vc, obrigada pelo apoio. Beijos!

Felipe Lima disse...

Era o que eu queria ter escrito e não consegui.

C. disse...

venho quando quero prazer e quando quero crescer. !

e esse final eu não tinha visto!



=**

whiteposernigga disse...

"...O meu lençol é barato, minha alma não é."




Frase do meu dia.


Preciso de uma cerveja gelada e uma rodada de risadas com amigos.
Vou nessa...

Beijos!

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Porque os momentos enclausura um pouco a sensação de se querer. E o pouco fica preso ali nas dobras do dia. Um amargo preto e branco percorre pelo corpo. Nem ontem, nem amanhã.

Nunca sabemos quando...

Beijos

Ariana Luz disse...

ai gente que lindo..que deleite!


flores

Caroline disse...

Dá um certo desespero analisar o ser humano, um animal que não sabe se no próximo momento será temperança ou calamidade...

Haa, isso é tão lindo.

Um beijo Flavinha.

Bill Falcão disse...

"The answer, my friend, is blowin in the wind..."
Bjoooooooo!!!!!!!!

Zunnnn disse...

Que seu lençol pague... o que a alma nao quer..rs

abraçoo

ps:comentario triste o meu ne?
correndo por aqui.. mas eu li...

aabraçooo

Anônimo disse...

Abstrato sim, mas acima de tudo racional, dentro de sua perspectiva de relatividade! Você sabe transformar as palavras em "armas"... boas armas capazes de traduzir um interior muito lindo, embora instável, por vezes. Esse texto esconde muito sentimentalismo, e somente você pode decifrá-lo... é algo que vc aprendeu a fazer de uma forma brilhante!

Beijos Flavinha!

Anônimo disse...

Gosto de ler a dualidade das tuas palavras.
Tão abstratas como concretas.

Marcos Seiter disse...

Quase sempre eu fico neste mundo.

Qual o valor teria nossa alma se seu valor fosse leviano?

A minha é um mistério em meu ego.


Beijos!!!



Marcos Seiter