segunda-feira, 27 de abril de 2009

F.

Acontece que, no meu plantão de sábado à noite no Pronto-Socorro, fui chamada às pressas no meio de um atendimento para socorrer uma garota vítima de agressão física. A moça me aguardava na sala de sutura, trêmula, pálida do susto e da perda sanguínea importante, com as roupas ensanguentadas e a camiseta rasgada, o trapo de pano que envolvera a mão direita largado sobre a maca enquanto os enfermeiros tentavam limpar o ferimento e estancar a hemorragia. Ao me ver, ela esboçou um sorriso e me olhou como se pedisse desculpas por estar ali me dando trabalho, pois ela mesma, uma vez, me disse que eu deveria trabalhar menos e descansar mais - F. é minha paciente no programa Saúde da Família e, aos 17 anos, é mãe de um bebê de 6 meses, de quem também cuido no programa de puericultura. Perguntei-lhe o que havia acontecido; ela contou que fora agredida pelo marido a golpes de facão e, ao tentar se defender, a lâmina atingiu em cheio a mão direita, seccionando vasos, nervos, músculos e tendões do segundo, terceiro e quarto dedos.

Nenhum comentário: