segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Parto



Nasci. De um nascimento que nada tem a ver com a fragilidade exausta e ensangüentada do meu corpo diminuto desligando-se do santuário que o resguardara durante nove meses. Vim ao mundo em hora tão diversa, e imprevista, e insuspeita, que não se me ouviu o choro quando este soou pela primeira vez.

Vim ao mundo assim, me insinuando nele e me apropriando de suas entranhas – e também houve sangue e dor, e a ruptura do cordão foi brusca e definitiva, e grande foi o meu assombro diante dessa existência tão repentina. Maior, porém, foi o encanto, o delicioso e sublime encanto de me perceber ali, viva, gritante, aguda, dona de um pulsar absoluta e genuinamente meu, de um misterioso fôlego que me transcendia os pulmões para inundar todos os meus focos de carne. Surpreendi-me sedenta, faminta de mim, invadida pela sede e pela fome que despertavam avassaladoras de uma quiescência inacreditavelmente longa – e me saciei, ávida, na fonte imaterial dos meus desejos, que jorravam pródigos diante dos meus olhos recém abertos para a luz.

E era bom sentir, tocar, saber-me ser. Era bom o gosto de vida impregnando a boca que se abria no afã de engolir o mundo, o clamor do meu ventre ansioso por gerá-lo, dessa vez à minha imagem e semelhança. Era quente e arrebatadora a luz que cegava meus olhos e os despertava para todas as visões até então não mais que imaginadas, sonhadas, sentidas. Era bom.

Nasci, enfim. Nasci no exato instante em que descobri a mim mesma.

35 comentários:

Luan Iglesias disse...

é... e tem gente que nunca nasce. Apenas abortam em suas vidas perante suas pedras no sapato. Belas palavaras apra um belo blog.

PS: Bah, tu ainda terá que me ensinar a usar esse blogspot!

Beijo!

Flávia disse...

Luan, que bacana seu comentário. E assim que quiser dar uma revirada no blogspot, é só chamar. Não sei muita coisa não, mas te ajudo com prazer. Beidjo!

Anônimo disse...

que lindo! será que tudo isso passou pela minha cabecinha quando nasci

nossa como eu queria saber...rs

bjuxxxxxxx

Van disse...

Lindona...
Eu adoro esse texto! Sou fã dele!
Aliás, sou SUA fã! Incondicional!
Love U, twin.

PS: Tô sumidona do MSN. Sorry!
É que ainda tô com LER.
Na verdade, meus braços estão inúteis. Qualquer coisinha de nada que eu faça, dói tudo denovo! Shit! Pior é que tenho mil coisas pra fazer no computer... E tô com saudades dos nossos papos.
=(
Well.... Ces´t la vie!
Beijucas

˙·٠•● ѕεறிoτιvo ◦ disse...

Então foi assim. Sem nem mesmo ser ainda compreendida, vc já sabia expressar-se da melhor forma: existindo!

Dá um beijo não sua mãe e agradece por mim por ela ter colocado no mundo uma pessoa tão especial como vc.

Abraço

Ray

Anônimo disse...

Vais nascer muitas mais vezes (assim como nós), pois descobertas fazemos sempre, as vezes o parto é normal mas as vezes sofremos mais.
Pelo que entendi o teu sofrimento foi suplantado pelo desejo de nascer.
Abraço.

Carlinha disse...

Adorei....
nada melhor q nascer denovo, ou simplismente nascer para nós mesmos né....

Obrigada pelo elogio lá o meu blog..rs

beijos

Arne Balbinotti disse...

PERFECT...
Todos temos que, as vezes, renascer, eu já perdi as contas de todas as vezes que morri e renasci, mas a minha sorte é que eu consigo fazer isso grandiosamente.
Pena daqueles que morrem, não renascem e ainda por cima exalam a podridao dos seus proprios equivocos e preconceitos.
Beijos.

Anônimo disse...

Perfeito o texto,li e reli...Adorei

Dread disse...

excelente.
o que um anti-social pode falar para um texto desse?
talvez não tenha nem palavras para se expressar, talvez apenas possa imaginar "será que eu também fui assim?".

novamente, excelente Flávia.

Anônimo disse...

nasci... depois do suicidio da lagarta ;)

beijo

"Oncotô? (Erika)"

Antonio Ximenes disse...

Flavinha.

A gente renasce todos os dias.
A cada descoberta.
A cada novidade.
A cada nova decisão que tomamos.

Nem sempre a luz da vida que enxergamos... é brilhante... às vezes algumas trevas aborrecem... mas... como tudo em nossa vida... tudo são fases.

Mais um texto perfeito.

Abração pra tu.

Fabio Valentim disse...

Flavinha estou passando pela primeira vez por aqui e gostei do teu blog. Voltarei aqui mais vezes.

O texto é bem profundo e encantador. Beijos.

Anônimo disse...

Nasço e morro todos os dias.

Lindo teu texto.

Bruno Cazonatti disse...

Querida...
Adorei o "sedenta, faminta de mim, invadida pela sede e pela fome que despertavam avassaladoras de uma quiescência inacreditavelmente longa". Essa é a essência!

Olha, estou sempre lendo-te, mas nem sempre a correria do dia a dia me permite deixar um comentário, um carinho. Me perdoa?

Beijos com sol
Brunø

Ane Talita disse...

Todo mundo espera por esse "segundo e definitivo" nascimento...Tem gente que passa a vida buscando nascer e não nasce...Mas com quem acontece, é uma coisa linda de ver...

beijão!

Petê Rissatti disse...

Descobrir-se. Desentranhar-se. Desinibir-se. Ontem falamos sobre isso, se amar. E se descobrir é se amar. Renascer é se amar. Se respeitar. Sempre é lindo ver seu renascer em cada texto, minha linda.

Van disse...

Amore, tem presentin procê lá no VAN Filosofia!

Vai lá ver, vai????
=)
Saudades!
Beijucas

Ricardo Rayol disse...

então ainda não nasci

. fina flor . disse...

use sapatinhos vermelhos, dizem que dá sorte sair com eles nos primeiros instantes de vida.

beijos, bela

MM.

Buda Verde disse...

quando terminei de ler pensei.

"então quando ela nasceu disse: ufa!".


beijocas.

Heliarly F. Rios disse...

Tem selo lá pra ti... Tá corrido amanhã eu volto!
Beijos

|Renata_Emy| disse...

Ainda não me descobri!
Será que ainda estou na bariga da mamãe?!?
Hehe...

Tem dois prêmios p/ vc em meu blog!
http://renataemy.blogspot.com/2008/01/algumas-fotos-do-fim-de-semana-e-prmios.html

Beijos

Adriana disse...

Esse texto é do teu blog antigo né?

Bem, espero não ser repetitiva neste comentário, mas a gente sempre nasce e morre a cada dia, essa é a magia da vida, ser perene , mas eterno.

Mudei de ares, tô com um novo blog, pois aquele estava me cansando...

Beijos querida. Tu continua arrasando na escrita!

Adriana disse...

Esse texto é do teu blog antigo né?

Bem, espero não ser repetitiva neste comentário, mas a gente sempre nasce e morre a cada dia, essa é a magia da vida, ser perene , mas eterno.

Mudei de ares, tô com um novo blog, pois aquele estava me cansando...

Beijos querida. Tu continua arrasando na escrita!

MH disse...

Uau, já disse que teus textos me deixam de queixo caido...aliás, deixa eu ir pegar meu queixo que ele rolou pra baixo da mesa.

"saber-me ser"...lindo isso

benechaves disse...

Oi, Flavita: e que bom que vc nasceu! Só assim posso daqui admirar os seus textos sempre inteligentes e de uma narrativa que flui como a água em um riacho. Nas entrelinhas as palavras com o seu lirismo já peculiar. Que bom que vc nasceu saudável e bela!

Um beijo encantado...

Fernando Ramos disse...

Olá, Flavinha!

Estilo é uma coisa muito louca mesmo, não? Cara o teu estilo de escrever me lembra muito a Dri, minha amiga aí acima. Mas não é disso que quero falar.

É que quando leio estas estrofes tuas, meio reflexivas, meio prosas, penso que posso estar diante de uma iminente grande escritora.

Porra, essa coisa do parto foi do caralho! A exploração do tema, as pontuações e a coisa do clichê nasci de novo revistada de forma poética. Muito bom!

Só queria saber se este texto foi escrito depois de uma reflexão, depois que conseguiu ver você de fora. Fiz isso este ano em um momento meio chato da minha vida, mas foi mais um desabafo(http://colunafantasma.blogspot.com/2007/12/confessionrio-ou-auto-anlise-ii.html), mas continuei meio triste com tudo. E o que escrevi passa isso. Diferente do seu Parto.

Enfim, bom texto, mulher! E quando aparecer no Faustão, eu vou estar no vídeo. E farei você chorar! :)

Beijocas!

A que está escrita. disse...

Flávia, lindo texto! Vivo me redescobrindo, entre sangue e pétalas!
Adorei seu comentário no colar. De fato, minha experiência me fez lembrar logo a Clarice, tradutora exata de tantos dos meus medos.
Beijos!

Gabriela Gomes disse...

Flavinha,

Será, então, a nossa bandeira. :)

Esse texto já havia sido publicado no Cotidianidades, não?

Besitos. E tomara mesmo que esse ano traga ótimas surpresas a nós.

Heliarly F. Rios disse...

É tudo tão bonitinho, será essa a palavra? GUTGUT GUT... Não sei comentar essa coisas, por que flá?

Nesceu e tá aqui pra me explicar... até!

Si disse...

Tem selo para você no meu blog.

Beijos.

A que está escrita. disse...

Aaah, te linkei lá no Colar para tentar sempre renascer com seus textos! beijos!

Thiago Lira disse...

O sangue e a dor continuam comigo até hj...

Forte o texto gata
Clap! Clap! Clap! Clap!

Alê Quites disse...

Flavinha, tá de casa nova?!

Quando puder, dê um pulinho no Macabelagem: http://macabelagem.ideiadejerico.com/?p=39

O blogue é novo e precisa de ajustes e divulgação.
Bom final de semana!
Beijos*