segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Metáfora do Dia

Nem tudo que reluz é ouro. Ou diamante.


Certo dia um homem, caminhando distraidamente pela rua, pensando na vida, deixou cair do bolso uma moedinha sem valor. Ao se abaixar para recuperá-la percebeu um brilho discreto e inconfundível no chão. O homem se esqueceu da moeda e tomou nas mãos aquela pedrinha reluzente; maravilhado, constatou que se tratava de um pequeno diamante – uma fortuna inestimável apesar do diminuto tamanho. Mal pôde acreditar que algo tão valioso finalmente tivesse ido parar nas suas mãos, e daquela forma tão inusitada; mas agora o diamante era seu, e nada no mundo o tiraria dele. Ainda trêmulo, o homem envolveu seu tesouro em um lenço com muito cuidado e carinho, e o depositou no bolso da camisa. Seguiu para casa feliz, agradecendo pela sorte que finalmente lhe havia sorrido.

Ao chegar em casa o homem trancou todas as portas e janelas, sentou-se na cama, retirou o diamante do bolso e se deteve a examiná-lo demoradamente. Era, de fato, um diamante. Pequeno, um pouco sujo da poeira dos calçados que o haviam pisoteado, mas um legítimo diamante. Talvez por isso ele tivesse sido ignorado pelos transeuntes; aquela ligeira crosta de terra decerto o fizera passar por uma pedrinha comum. Mas ele, o homem, dono de olhos treinados, conhecedor de pedras de todos os tipos, as valiosas e as de brilho falso, o reconhecera. Era, de fato, um diamante. E era seu, embora não soubesse muito bem o que fazer com ele. Decidiu guardá-lo dentro de uma caixinha de jóias, quietinho, seguro, a salvo da cobiça do mundo, até que fosse hora de retirá-lo.

Porém – apaixonado que era por belezas reluzentes – o homem continuou a colecionar pedrinhas. E, quando já não havia espaço para acumular tanta tralha, o homem passou a guardar as bijuterias na mesma caixinha de jóias que servia de refúgio para o diamante; este praticamente desapareceu, afogado sob tanto peso sem valor. O homem, a essa altura, tão ocupado estava em colecionar pedrarias que se esquecera dele. E numa noite de bebedeira abriu a caixinha de jóias, despejou todo seu conteúdo sobre a mesa de jantar e perdeu-se em admiração por todas aquelas cores e formas que saltavam diante de seus olhos... por fim, num surto de insanidade, apanhou o pequeno diamante – entre todas as pedras, a menor e mais desprovida de cor – e a atirou raivoso dentro do vaso sanitário. E puxou a descarga (!!!).

No dia seguinte, em meio à ressaca, o homem se lembrou do diamante e do que fizera. Desorientado, torcendo para que os acontecimentos da noite passada não tivessem sido mais que um terrível pesadelo, abriu a caixinha de jóias: vazia. Revirou a casa inteira: nada. Buscou em todos os lugares, vagou pelas ruas à procura de sua pedrinha... mas ela realmente se fora. E ele nunca mais tornou a vê-la, nem encontrou outro diamante – afinal de contas, diamantes não nascem em árvores, não é mesmo?


Moral da história: há pedrinhas chinfrim, há semijóias e há (pouquíssimos, raríssimos, exclusivíssimos) diamantes. Misturar as três categorias no mesmo balaio é abusar da sorte.


Beijos a todos e ótimo início de semana!

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P.S.: estarei um pouco ausente entre os dias 12 e 16 desse novembro devido a uma sequência de provas de residência espalhadas por aí. Na segunda-feira, 17/11, tô de volta. Torçam aí! :)


43 comentários:

Anônimo disse...

bah, diamante real é esse teu texto.


muito bom.


sorte e luz.

Alessandra Castro disse...

Não, não nascem e é justamente por isso que são tão procurados.

;)

Num demora.

Sunflower disse...

Quanto pelo seu brilhante sarcasmo?

Está a venda? Eu compro.


Beijas, deusa, excelente provas. Mostre pra elas quem é que manda!

Anônimo disse...

Assim como nas fábulas, em nossa existência nos deparamos com sentimentos e mentes em formas brutas, semi-preciosas e raríssimas jóias, por vezes a serem lapidadas.
Os contornos brutos insistem na mediocridade de ser;
Os semi-preciosos estão em nosso meio tentando transcender aos eventos cotidianos através de atitudes reflexivas;
E as jóias, ah estas colaboram para o crescimento das demais ofertando seu exemplo de vida...
Você é uma jóia preciosa que por meio de sua humildade consegue fazer bilhar a estrela de quem contempla seu encanto!
Obrigada pelos seus textos
Ana Cárita

Juliana disse...

Muito bom o texto! Li seu outro blog "espasmos" e morri de rir!! hahahahah
Apesar de ter conehcido meu namorado na internet, a namoramos a 3 anos! Só tive coragem de adimitir que nos conhecemos na internet a pouco tempo, antes eu tinha medo de pensarem que eu era louca, ai inventava histórias de como tinhamos nos conhecido!

Anônimo disse...

É...
Além de abusar da sorte, é aquela moda que jamais perderá a breguice.
E eu insisto:
O que é simples é singular. E tão mais agradável!

Escritora! ;)
Boas provas!
Tô aqui com amor e abraços.

Jana Lauxen disse...

Putzgrila!
Mas gostei da moral da história.

Beijinho Flávia!

Jana Lauxen disse...

Ah sim, e boa sorte essa semana!
Vou ali embaixo procurar meu selinho.
Hihihi.

:)

Kari disse...

Maravilhoso!!!
Misturar dá nisso, né?


E ei moçinha! Estou torcendo sim, pode deixar!!!!!

Beijão

Germano Viana Xavier disse...

Amar um só.
Não cuidar de todos.


Um carinho, Flávia.
E obrigado por indicar o Clube para a Mai.

Continuemos...

Chantinon disse...

Só um idiota joga um diamante fora!

Mas tem aquele lance... quantidade no lugar de qualidade.
Ou aquele outro Freudiano, que faz o cara comprar uma caminhonete Enorrrmeee para compensar o pequeno... conhecimento em jóias :) (A jóia que eu tô falando é a que ele jogou fora).

(Vai desculpando, e que tô extramamente bem humorado, e isso não é uma cantada... Hahah!)

Seu texto me lembrou o disco "Vou tirar você desse lugar", um tributo a Odair José... Que é simplesmente fantástico!

É brega mas é bom :)

Bjs

Altavolt disse...

Flavinha, vc é que é um diamante verdadeiro e em estado bruto! Grande beijo!

Flávia disse...

AFOBÓRIO, ANA CÁRITA, JULIANA, KARI, JANA,

Obrigada, gente!

MARY WEST,

Vc é um desses diamantezinhos :)

SUNNY,

A concentração atual desse negócio no meu sangue é tanta que dá pra distribuir e ainda sobra para gerações e gerações... obrigada pela torcida!

PATI,

EXATO. Obrigada pela torcida e pelos abraços - o amor eu retribuo :D

GERMANO,

Imagina, eu indico com prazer - adoro o que vc escreve. Quanto a amar um... pq pra uns é tão difícil, hein?

CHANTINON,

Rapaz... né que essa teoria faz sentido: :P
E é a quarta ou quinta vez que vc me fala do Odair José, homem... tenho até medo de sucumbir!

ALTAMIR,

Vai ver é por isso, pelo estado bruto, que ainda me confundem com pedrinhas... mas prefiro não me lapidar a receber um polimento duvidoso.


Beijos a todos!

Grã disse...

Letra????

É uma história inteira!!!

tá-tum, baby!

Bandys disse...

Adoro seus textos..
Estarei na torcida também, boa sorte.

beijos

Tyr Quentalë disse...

Estarei torcendo por você e mande notícias de seu sucesso!
Quanto ao texto, minha bela e caríssima jóia.
Há sempre pessoas que não dão o devido valor ao que têm me mãos, não é mesmo?
Beijos e que sua luz continue a reluzir na alma de todos os teus apreciadores e daqueles que ainda hão de te apreciar.

Anônimo disse...

Mas nem bêbada. hihihi
Torcendo daqui!
Bjitos!

Daniel Salles disse...

E a Merilyn Monroe falava que o diamante é o melhor amigo da mulher...talvez porque essa lógica não valha só para as pedrinhas...

Vinil Digital disse...

Oi, Flávia. Vi seu link no blog de meu a amigo Rodrigo Carreiro (Terra de Ninguém).
Adoro contos, sou fã mesmo! E vejo que escreve muito bem. Acho que terei guradarei seu diamante, quer dizer, seu blog, entre os meus favoritos.
Passa lá no meu e vasculha um pouco. Se quiser, manda um texto que publico para outros conhecerem.
Grande beijo!

Anônimo disse...

Nossa, me lembrou daquela fábula da moça que encontrou uma pilha, novinha, cheia de energia. Mas ao invés de colocar na máquina fotográfica para fazer lindos registros, ou no walkman para ouvir músicas marcantes, ou usar no controle remoto para pautar a exibição de filmes de excelente bom gosto, a moça resolveu tacar a pilha na cabeça de pessoas que achavam serem desafetos seus: "eu tenho meus motivos para isso, oras!" Mas no bate-bate a pilha estragou e perdeu sua finalidade precípua.

Diamantes e pilhas, quem diria, hein?

Mande bem nas provas. Elas não são dragões.

Rodrigo Carreiro disse...

Boa sorte nas provas e belo texto
;p

Cris Medeiros disse...

O que mais vemos na nossa sociedade é gente dando valor a bijouterias e jogando os diamantes fora.

Beijocas

Ana Luísa disse...

Nossaaaa, muito bom também, assim como o de ontem! Indiquei, e vou passar aqui sempre, posso linkar no meu blogg?
;D
Bjos
[Concordo.. Não dá pra misturar todas as categorias, ou você pode esquecer quem pertence a qual delas.. E jogar uma jóia fora, pra valorizar uma pedra.]

Flávia disse...

GRÃ,

tum-tá :)

BANDYS, TYR, LUSINHA, RODRIGO CARREIRO,

Obrigada!

DANIEL SALLES,

Essa lógica se aplica a quase tudo nessa vida, querido.

VINIL DIGITAL,

opa, bem vindo! Obrigada pela visita, bem vindo por aqui sempre. Daqui a pouco passo aí pra te conhecer melhor - e gostei da idéia do conto, gostei...

SR. EXCLUÍDO,

Tenho a sugestão perfeita para sua preocupação. Se lhe é tão caro fazer as vezes de defensor dos fracos, oprimidos, e atingidos por pilhas, crie uma ONG - assim o senhor satisfaz seu lado justiceiro e ainda colabora para tornar o mundo um lugar melhor pra se viver, não é genial? E pare de se preocupar com as pilhas alheias. Cada um faz das suas pilhas o que bem entende, e atira na cabeça de quem achar que merece.

E obrigada pelos votos de boa sorte.

DAMA,

E como tem gente ligada em bijuteria nesse mundo, meu Deus!

Anna Bueno disse...

Flavinha,
Fiquei aqui pensando qtas vezes misturamos pessoas diamantes com pedrarias sem valor apenas pq essas estao brilhando mais? No final das contas qdo precisamos selecionar acabamos por valoriza as de maior brilho. De qqer forma, peço que vc não suma por muito tempo pq seus escritos são diamantes dia a dia lapidado.
Vou orar por vc nas provas.
Beijos!

Mariana disse...

AMEIIIIIIIII

misturar as 3 categorias é mesmo abusar da sorte!!!!!

bjss

Monday disse...

eu já tinha ouvido falar que misturar bebida poderia fazer a gente tropeçar nas pedras do caminho ... mas foi a primeira vez que ouvi dizer que misturar pedrinhas poderia fazer a gente tropeçar na bebida!

sorte na ausência e bom retorno ao lar, na segunda

Camila disse...

muitoo boaa a moral da historiaa :)

bejoo

Taynar disse...

Ahhh.. Eu fico até sem ter o que falar, tamanha a proeza das tuas palavras. Essas sim, pedras preciosas.

Eiii, tás de malas prontas??
To indo viajar dia 19!
Como a gente pode marcar??

Beijos, moça

Anônimo disse...

Huahahahahahahahahahahahaha!

OK, caríssima, sua mente precisa ser doada à ciência, pela posteridade. Claro, não antes de vc usá-la tanto e muito mais, viu? Post delicioso, tão divertido e essa moral q só falta as risadas de desenhos dos anos 80, em seguida.

Como sempre, sua mente encantadora vai muito além do óbvio.

Anônimo disse...

´Há pessoas (muitas) que não enxergam bem, que não distinguem colibri de elefante e, mesmo assim, insistem em NÃO usar óculos...
Há, outrossim, aquelas que são surdas como uma porta e insistem em dar opiniões sobre as histórias que "escutam".
Flavinha, o personagem da tua história, na minha modesta opinião, não sabia distinguir bijuterias de diamantes.
Mas há muitos que sabem, minha querida. Aguarde, que logo conhecerá um desses.
Boa sorte nas tuas provas. Estarei torcendo por você.
Até

Anônimo disse...

Pois é, quantas e quantas pessoas misturam o que foi feito para ser guardado em relicário. E numa bebedeira qualquer, num acesso qualquer, numa estupidez cotidiana, chutam o pau da barraca e atiram na privada sem nem mesmo olhar pra trás.
Não há engov ou aspirina que vá curar essa ressaca...


Otimo OTIMO conto.
Beijocas

Robson Schneider disse...

Nossa que metafora angustiante essa... Eu arrancaria o vaso.
Bj

Cara de 30 disse...

Quantos diamantes os bêbados e drogados já jogaram fora em suas vidas? UNF! Nem quero pensar mais nisso... Não gostei desse negócio de jogar diamante no vaso sanitário... Deu calafrios! hehehehe...

O meu está guardado dentro do peito, ali do lado esquerdo. Para que, nem que eu fique bêbado, possa jogá-lo fora... :)

Anônimo disse...

Cada coisa nos seus devidos lugares... Bjus e boa semana.

http://so-pensando.blogspot.com

Anônimo disse...

Eu não concordo muito com esta "moral da história" pois não vejo nada demais em misturar categorias.

O que precisamos é ter o discernimento de "não trocar os pés pelas mãos".
Concordo com a Dama, conviver com tudo, mas valorizar o certo.

Beijo, Flávia

Caroline disse...

o meu namorado tá quase me atirando pela descarga :)

beijo, flá.

SENSACIONAL.

Nadezhda disse...

E algumas coisas também são irreversíveis ;)

Anônimo disse...

Estarei sentindo a sua ausência. A saudade há de bater por aqui e vou chamar por você - "Flá desculpe o incomodo, mas estou com saudades. Volta logo!"

Te desejo toda sorte do mundo. Estarei na torcida e sei que há de ir muito bem! Acredito na sua capacidade de ir além e de chegar aonde quer! :)

Há que muitos não dão valor a pedrinhas de diamentes. Nem a sorrisos, nem a abraços, nem a um carinho na distância. Muitos não sabem o valor que tem o diamante.

Quando estava lendo foi passando um filme, uma peça de teatro na minha imaginação. Ao ler o trecho onde o homem bebâdo joga a pedra no vaso sanitário eu logo imaginei que no dia seguinte ele iria procurar pelo diamente e a cena seguinte seria um homem desesperado com a cabeça dentro do vaso procurando encontrar o diamante na esperança de não ter puxado a discarga e perdido o bem precioso. Tenho imaginação fertíl.

:)

Diamentes são tuas linhas, tua amizade, sua pessoa. Ótimo dia para a senhorita!

Abraço, até breve,

P.S- Postei um poema novo que aguarda a sua visita. Sei que há de gostar. Girassóis. :)

R.Vinicius

Glau Ribeiro disse...

Nuuuuuuu Flavinha,

Esse final? A-D-O-R-E-I!!!!

Misturar as três categorias, realmente num deve ser coisa boa. Lembrei de texto de Machado de Assis que metaforiza a mulher como uma maça. As mais difíceis estão no topo, e são as mais difíceis de pegar, por isso, por vezes, as mais baixas são as mais cobiçadas, mais fáceis que são. Adoro esse texto!

Como tudo que você escreve, querida. Eu imagino. Daria tantos filmes bons. =)

Beeeeeijo!

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Importante lição Flávia.
Precisamos dar valor às jóias verdadeiros e não misturá-las com as de pouco valor.

Linda mensagem.

Menina, tu é uma contista de primeira. Adoro muito vir aqui. ME inspiro demais. Um dia vou adorar escrever assim como você.

Grande Beijo linda Flá.
;)

Luiz Calcagno disse...

Esses somos nós. Somos o homem e a caixa, somos o diamante trocado pela lama. Não devemos abusar da sorte, não é mesmo?

Tania Capel disse...

hum, inteligente!
deveria ser impresso e exposto em locais onde todos pudessem ler... afinal, anda-se jogando muitas pedrinhas desarcaga a baixo!

beijos